Mais de um terço das espécies de árvores do planeta, desde arvores tropicais até pinheiros de montanha, estão ameaçadas de extinção. Essa realidade foi destacada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que atualizou sua Lista Vermelha de espécies ameaçadas em outubro. Atualmente, as árvores representam mais de um quarto de todas as espécies incluídas na Lista Vermelha, com risco de extinção em quase todos os países.
Um dos fatores que pode explicar a dificuldade das árvores
em se adaptar às mudanças climáticas é a relação com fungos subterrâneos. A
maioria das espécies de árvores depende de fungos simbióticos, conhecidos como
ectomicorrízicos, para obter os nutrientes e a água necessários para
sobreviver. No entanto, esses fungos, assim como outros organismos, também
enfrentam dificuldades para se adaptar às mudanças climáticas, especialmente ao
aumento do calor e à seca. Apesar da relevância desses fungos, ainda há muito a
ser descoberto sobre como estão reagindo às mudanças climáticas e como isso
afeta a capacidade de sobrevivência das árvores em diferentes regiões. Essas
interações são absolutamente críticas tanto para o mundo acima quanto para o
abaixo do solo. Ainda estamos tentando entender como essas relações irão mudar
com o clima.
Um artigo publicado recentemente na revista PNAS analisou como as mudanças climáticas estão reduzindo a sobreposição entre árvores e fungos subterrâneos, limitando as áreas para onde as árvores podem se deslocar. Utilizando dados de distribuição de 50 espécies de árvores e 402 espécies de fungos do solo da América do Norte, os pesquisadores mapearam os "habitats adequados", onde há sobreposição entre árvores e fungos. Também cruzaram esses dados com condições climáticas atuais para entender os habitats propícios às relações árvore-fungo. Com base nessas informações, modelaram cenários futuros considerando o impacto do clima sobre árvores e fungos.
Os mapas resultantes revelaram que, como esperado, os
habitats adequados para árvores e fungos tendem a se deslocar para o norte, em
direção a regiões mais frescas e úmidas. Contudo, 35% das combinações entre
árvores e fungos enfrentam uma redução significativa das áreas onde ambas
poderão coexistir. Sem os fungos apropriados, as árvores não conseguem migrar
para novas áreas, mesmo que as condições climáticas sejam favoráveis. Se
quisermos realmente conservar as árvores e sua diversidade, precisamos entender
as interações entre micorrizas e plantas, ou seja, entre raízes e fungos.
Cerca de um terço das interações árvore-fungo enfrentarão
perda de habitat adequado, sugerindo que esse número pode ser uma estimativa
conservadora. É uma perda de uma interação essencial para a sobrevivência de
muitas espécies.
O desmatamento também impacta os fungos subterrâneos. Quando uma floresta é devastada, as redes fúngicas subterrâneas desaparecem junto, embora o impacto ocorra fora da vista. A análise também revelou que a redução da biodiversidade de fungos no solo nas bordas dos habitats adequados limita a migração das árvores. Em regiões com maior diversidade de fungos, as árvores têm mais chances de encontrar parceiros adequados, facilitando sua adaptação ao novo clima. Os fungos desbloqueiam o potencial das árvores para escapar.
Artigo
Nuland et. al. (2024) - Climate mismatches with ectomycorrhizal fungi contribute to migration lag in North American tree range shifts

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