O pombo-doméstico (Columba livia) é uma espécie amplamente conhecida e encontrada em praticamente todas as regiões urbanas do mundo. Originário de regiões do sul da Europa, norte da África e sul da Ásia, ele foi domesticado há milhares de anos e posteriormente disperso para outras regiões do globo. No Brasil, sua presença tem gerado tanto fascínio quanto preocupações, devido aos impactos ecológicos e sanitários que representa. Este texto explora a história da distribuição do pombo-doméstico, sua introdução no Brasil, aspectos biológicos e ecológicos, bem como os desafios relacionados à saúde pública e à competição com espécies nativas.
Distribuição Natural e Introdução no Brasil
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| Imagem de Rajesh Balouria por Pixabay |
No Brasil, a introdução dos pombos ocorreu principalmente durante o período colonial, trazidos pelos portugueses e outros imigrantes europeus. Inicialmente criados em ambientes rurais e urbanos, muitos desses animais escaparam e formaram populações ferais. Hoje, os pombos-domésticos são comuns em praticamente todas as cidades brasileiras, especialmente em centros urbanos densamente povoados, onde encontram abundância de alimento e locais para nidificação.
Aspectos Biológicos
Reprodução
Os pombos são conhecidos por sua alta capacidade reprodutiva, que é um dos fatores-chave para seu sucesso em ambientes urbanos. A espécie pode se reproduzir ao longo de todo o ano em climas tropicais e temperados, embora os picos reprodutivos ocorram na primavera e verão. O ciclo de reprodução começa com a formação de pares monógamos, que permanecem juntos durante toda a estação.
A fêmea geralmente põe dois ovos por ninhada, que são incubados por cerca de 18 a 21 dias. Tanto o macho quanto a fêmea participam da incubação e do cuidado com os filhotes. Os filhotes são alimentados com o chamado "leite de pombo", uma secreção rica em nutrientes produzida no papo dos pais. Em aproximadamente 30 dias, os filhotes já estão aptos a deixar o ninho, permitindo que o casal comece um novo ciclo reprodutivo.
Alimentação
Os pombos têm uma dieta generalista, alimentando-se de grãos, sementes, frutas e restos de alimentos humanos. Em ambientes urbanos, é comum observá-los se alimentando de migalhas de pão, arroz e outros resíduos alimentares descartados por pessoas. Essa flexibilidade alimentar é um dos principais fatores que contribuem para sua sobrevivência e expansão populacional.
Em condições naturais ou rurais, sua dieta é composta principalmente por sementes de gramíneas e outras plantas, que coletam diretamente do solo. Em ambientes urbanos, a suplementação com resíduos humanos é tão significativa que influencia no crescimento das populações.
Detalhes da Biologia e Ecologia
Os pombos são aves de porte médio, com peso variando entre 200 e 400 gramas. Possuem plumagem variada, com tons que podem ir do cinza ao branco, muitas vezes com reflexos iridescentes no pescoço. Sua adaptação a ambientes urbanos é notável: conseguem utilizar edifícios, pontes e outras estruturas artificiais como substitutos de seus habitats naturais, como falésias e cavernas.
Ecologicamente, os pombos exercem um papel controverso. Enquanto são importantes como dispersores de sementes em alguns contextos, em ambientes urbanos e introduzidos, eles tendem a competir de forma desvantajosa com espécies nativas.
Impactos na Saúde Pública
Os pombos-domésticos são frequentemente associados a problemas de saúde pública devido à transmissão de zoonoses. Suas fezes, em especial, são vetores de uma série de microorganismos patogênicos, como fungos, bactérias e vírus.

Imagem de Rajesh Balouria por Pixabay
Doenças Associadas

Criptococose: Uma doença fúngica causada por Cryptococcus neoformans, presente nas fezes secas dos pombos. Pode causar infecções respiratórias e, em casos graves, atingir o sistema nervoso central.
Histoplasmose: Provocada pelo fungo Histoplasma capsulatum, também encontrado nas fezes, afeta o sistema respiratório e é mais comum em indivíduos imunocomprometidos.
Salmonelose: As fezes dos pombos podem conter Salmonella sp., uma bactéria que causa intoxicação alimentar severa em humanos.
Ornitose: Causada pela Chlamydia psittaci, é uma doença bacteriana que pode ser transmitida através da inalação de poeira contaminada por fezes ou secreções dos pombos.
Problemas de Higiene
As fezes dos pombos, além de serem vetores de doenças, causam degradação de estruturas urbanas, como prédios e monumentos. Seu acúmulo pode entupir calhas, danificar superfícies e gerar odores desagradáveis. Em locais fechados, como áreas de armazenagem de alimentos, sua presença pode comprometer a segurança sanitária.
Controle Populacional
A gestão das populações de pombos é um desafio global. Medidas como controle de alimento, esterilização química e barreiras físicas têm sido empregadas para reduzir os números em áreas urbanas. No entanto, soluções devem ser equilibradas para evitar crueldade animal e impactos secundários.
Competitividade e Impactos na Fauna Nativa
A introdução de pombos-domésticos em regiões como o Brasil traz impactos significativos para espécies nativas. Em ambientes urbanos e periurbanos, eles competem diretamente por alimento e locais de nidificação com aves nativas, como rolinhas (Columbina sp.) e periquitos (Brotogeris sp.).
Os pombos, devido à sua alta densidade populacional, podem monopolizar recursos, dificultando a sobrevivência de espécies menos competitivas. Além disso, eles podem atuar como reservatórios de doenças transmissíveis à fauna nativa, agravando ainda mais os impactos ecológicos.
Em ecossistemas urbanos, sua presença em grandes números altera dinâmicas ecológicas, como interações entre plantas e polinizadores, podendo reduzir a biodiversidade local. Em algumas situações, sua competição também afeta pequenos mamíferos e outros organismos que compartilham o mesmo espaço.
Conclusão
O pombo-doméstico é um exemplo claro de como uma espécie pode prosperar em ambientes modificados pelo homem, mas ao custo de impactos significativos na saúde pública e no equilíbrio ecológico. Sua introdução no Brasil e subsequente adaptação às cidades destacam sua versatilidade biológica, mas também alertam para a necessidade de controle populacional eficaz e conscientização sobre seus riscos.
Proteger as espécies nativas e mitigar os impactos causados pelo pombo-doméstico exige esforços conjuntos de políticas públicas, pesquisa e educação ambiental. Apenas com soluções sustentáveis e baseadas em ciência poderemos equilibrar a convivência entre humanos, pombos e a biodiversidade nativa.
Referências
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Sol, D., Santos, D. M., García, J., & Cuadrado, M. (1998). Competition for food in urban pigeons: the cost of being juvenile. Condor, 100(2), 298-304.
Van der Waal, G. M. (2007). Cryptococcosis: insights into the disease and the pathogen Cryptococcus neoformans. Medical Mycology, 45(2), 113-145.

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