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| ave-do-paraíso-imperador (Paradisaea guilielmi) é fluorescente Foto: © Rene Martin |
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| Paradisaea minor. by reza pratama |
A biofluorescência ocorre quando um organismo absorve luz de
alta energia, como UV ou azul, e a reemite em comprimentos de onda mais longos,
como verde, amarelo ou vermelho. Esse fenômeno é diferente da bioluminescência,
onde os organismos produzem sua própria luz. Em muitos animais, a
biofluorescência tem sido associada a comportamentos como camuflagem,
comunicação e até mesmo seleção sexual.
No caso das aves-do-paraíso, a biofluorescência parece estar
intimamente ligada aos rituais de acasalamento. Os machos dessas espécies são
famosos por suas penas brilhantes e danças elaboradas, que usam para atrair as
fêmeas. A descoberta de que muitas dessas penas brilham sob luz UV e azul
sugere que a biofluorescência pode ser mais uma ferramenta em seu arsenal de
sedução.
Como o estudo foi realizado?
A pesquisa foi conduzida utilizando espécimes de aves-do-paraíso
do acervo do Museu Americano de História Natural, em Nova York. Os cientistas
usaram luzes azuis e UV para excitar os fluoróforos (moléculas que emitem
fluorescência) nas penas e outras partes do corpo das aves. Em seguida, mediram
os comprimentos de onda da luz reemitida e analisaram como essas emissões
poderiam ser percebidas pelos próprios pássaros.
Os resultados mostraram que a maioria das espécies de aves-do-paraíso
emite luz verde e amarelada (em torno de 520 nm e 560 nm) quando expostas à luz
azul. Sob luz UV, as emissões foram ainda mais intensas, com picos entre 470 nm
e 520 nm. Esses comprimentos de onda coincidem com a sensibilidade visual dos
pássaros, que possuem cones fotoreceptores capazes de detectar cores nessa
faixa.
Biofluorescência e seleção sexual
As aves-do-paraíso são um exemplo clássico de seleção
sexual, onde características exageradas, como penas brilhantes e rituais
complexos, evoluíram para atrair parceiros. A biofluorescência parece ser mais
uma dessas características. Muitos machos possuem penas biofluorescentes em
áreas usadas durante as exibições de acasalamento, como a cabeça, o pescoço e
as plumas. Além disso, essas áreas são frequentemente contrastadas com penas
superpretas, que absorvem quase toda a luz, tornando as cores fluorescentes ainda
mais vibrantes.
Por exemplo, machos de algumas espécies do gênero Paradisaea exibem
penas fluorescentes na cabeça e no pescoço, que são destacadas durante suas
danças de acasalamento. Já os machos do gênero Parotia possuem
penas fluorescentes ao redor das narinas e da coroa, que são exibidas contra um
fundo de penas superpretas, criando um efeito visual impressionante.
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| Mapeamento estocástico de caracteres da presença e ausência de biofluorescência na filogenia da ave-do-paraíso |
O papel das fêmeas
Enquanto os machos usam a biofluorescência para se exibir,
as fêmeas apresentam padrões mais sutis. Na maioria das espécies, a
biofluorescência nas fêmeas está restrita a penas mais claras no ventre, o que
pode ajudar na camuflagem. No entanto, em algumas espécies, do gênero Paradisaea e Paradisornis,
as fêmeas apresentam padrões semelhantes aos dos machos, embora menos extensos.
Isso sugere que a biofluorescência nas fêmeas pode ser um subproduto da seleção
sexual nos machos, ou talvez tenha uma função ainda não compreendida.
Um fenômeno generalizado?
A biofluorescência já foi documentada em outros grupos de
aves, como papagaios, pinguins e corujas, mas sua função ainda é pouco
compreendida. No caso das aves-do-paraíso, a presença generalizada de
biofluorescência em todas as espécies do grupo principal (exceto três gêneros)
sugere que esse traço pode ter evoluído cedo na linhagem e sido mantido devido
à sua utilidade na seleção sexual.
Conclusão
Os pássaros-do-paraíso continuam a surpreender os cientistas
com sua beleza e complexidade. A descoberta da biofluorescência em suas penas
abre novas possibilidades para entender como esses pássaros usam a luz e a cor
para se comunicar e competir. Em um mundo onde a visão é crucial para a
sobrevivência e reprodução, a capacidade de brilhar pode ser a chave para o
sucesso evolutivo.
Este estudo não apenas revela um novo aspecto da biologia
dessas aves fascinantes, mas também sugere que a biofluorescência pode ser uma
ferramenta visual importante em muitos outros animais. No caso dos
pássaros-do-paraíso, parece que o brilho secreto sob a luz UV é mais uma
maneira de impressionar as fêmeas e garantir o sucesso reprodutivo.
Artigo:
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