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| Imagem de G.C. por Pixabay |
O período crítico
A fase da toca (chamada de "denning" em inglês) é o período em que as mamães ursas polares ficam com os seus filhotes em cavernas após o nascimento das crias. O período em tocas é uma fase crucial para os ursos polares. As fêmeas grávidas escavam tocas no outono, dão à luz entre dezembro e janeiro e permanecem com os filhotes por mais três a quatro meses, até a estação da primavera. Durante esse período, os filhotes, que nascem extremamente vulneráveis (com cerca de 600 gramas), dependem da toca como proteção térmica e contra predadores. Após a primeira saída da toca, as fêmeas e seus filhotes permanecem nas proximidades por várias semanas, período essencial para o desenvolvimento dos filhotes e sua preparação para seguir as mães no gelo marinho. A pesquisa estima que menos de 50% dos filhotes chegam à idade adulta. Por isso, a sobrevivência dos filhotes nessa fase sustenta a continuidade da espécie.
Metodologia inovadora: câmeras e colares com sensores
O estudo monitorou 13 fêmeas
adultas equipadas com colares monitoradas por satélite que transmitiam dados de
temperatura, atividade e localização. Além disso, câmeras foram instaladas
próximo às tocas para capturar imagens detalhadas do comportamento das fêmeas e
filhotes. Os dados revelaram que as fêmeas emergiram das tocas entre 1º de
março e 21 de março, com uma média de 9 de março. Após a primeira saída das
tocas, as fêmeas permaneceram nas proximidades da toca por uma média de 12
dias, um período ligeiramente mais longo do que o registrado em outras regiões
do Ártico.
Desafios no monitoramento e
previsão de comportamentos
Apesar dos avanços tecnológicos,
prever comportamentos específicos, como as saídas temporárias das tocas, ainda
é um desafio. Os dados dos colares, coletados a cada duas horas, não foram
suficientes para capturar movimentos curtos das fêmeas e filhotes, que muitas
vezes duravam menos de 15 minutos. No entanto, os modelos desenvolvidos no
estudo mostraram alta precisão na previsão da primeira saída e da partida final
da toca, com taxas de acerto de 97% e 93%, respectivamente.
Fatores que influenciam o
comportamento depois da primeira saída
O estudo também identificou que
as condições ambientais locais, como a temperatura externa, influenciam o
comportamento das fêmeas e filhotes. Em dias mais quentes, a probabilidade de
observá-los fora da toca aumentou significativamente. Além disso, o tempo desde
a primeira saída também teve um impacto positivo na duração das saídas,
sugerindo que o período é crucial para a aclimatação dos filhotes ao ambiente
externo.
O estudo não atribui diretamente o abandono precoce das tocas ao aquecimento global, mas aponta que as mães ursos polares estão enfrentando dificuldades crescentes na reprodução devido a mudanças impulsionadas pelo clima. Isso indica uma possível influência das alterações climáticas no comportamento reprodutivo da espécie, embora a pesquisa não faça essa relação de forma conclusiva. Para isso, os pesquisadores indicam que é necessário um monitoramento adicional para determinar se isso é uma tendência contínua.
Impacto do aquecimento no Ártico
O Ártico está aquecendo de duas a quatro vezes mais rápido do que a média global, resultando na perda acelerada de gelo marinho e neve, habitats essenciais para os ursos polares. Essa transformação tem levado à redução da condição corporal, índices reprodutivos e recrutamento de filhotes, causando declínios populacionais em várias subpopulações de ursos polares. No entanto, os efeitos das mudanças climáticas nas primeiras fases da reprodução, como o período de maternidade nas tocas de neve, ainda são pouco compreendidos.
Implicações para a conservação
O período de maternidade é um
momento crítico para os ursos polares, tanto para o desenvolvimento dos
filhotes quanto para sua sobrevivência futura. No entanto, o aquecimento global
e a perda de gelo marinho estão tornando esse período cada vez mais desafiador.
Além disso, o aumento das atividades humanas no Ártico, como exploração de
petróleo e gás, representa uma ameaça adicional para as fêmeas e filhotes
durante essa fase sensível.
O estudo reforça a importância do monitoramento contínuo e da proteção dos habitats de maternidade dos ursos polares. A precisão dos modelos desenvolvidos pode ajudar a prever períodos críticos e partida das tocas, permitindo a implementação de medidas de conservação mais eficazes. Com o Ártico continuando a aquecer em ritmo acelerado, entender e mitigar os impactos das mudanças climáticas sobre os ursos polares será essencial para garantir a sobrevivência dessa espécie icônica.


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