Ursos polares: Estudo revela mudanças em período crítico de reprodução

 

Imagem de G.C. por Pixabay

Estudo revela mudanças significativas nos padrões comportamentais reprodutivos dos ursos polares (Ursus maritimus)Publicada na revista científica "Journal of Wildlife Management" nesta quinta-feira (27), Dia Internacional do Urso-Polar, a pesquisa mostra que, em Svalbard, na Noruega, os ursos estão emergindo de suas tocas por volta de 9 de março, um período significativamente mais cedo do que o registrado anteriormente nesta população. Esse estudo, realizado entre 2016 e 2023, revelou como as mudanças no comportamento reprodutivo desses animais, especialmente durante o período crítico de maternidade e desenvolvimento dos filhotes. A pesquisa, que combinou câmeras de monitoramento e colares com sensores de satélite, destacou a importância do período logo após as fêmeas e filhotes saírem das tocas para a sobrevivência dos filhotes e apontou desafios para a conservação da espécie.

O período crítico

A fase da toca (chamada de "denning" em inglês) é o período em que as mamães ursas polares ficam com os seus filhotes em cavernas após o nascimento das crias. O período em tocas é uma fase crucial para os ursos polares. As fêmeas grávidas escavam tocas no outono, dão à luz entre dezembro e janeiro e permanecem com os filhotes por mais três a quatro meses, até a estação da primavera. Durante esse período, os filhotes, que nascem extremamente vulneráveis (com cerca de 600 gramas), dependem da toca como proteção térmica e contra predadores. Após a primeira saída da toca, as fêmeas e seus filhotes permanecem nas proximidades por várias semanas, período essencial para o desenvolvimento dos filhotes e sua preparação para seguir as mães no gelo marinho. A pesquisa estima que menos de 50% dos filhotes chegam à idade adulta. Por isso, a sobrevivência dos filhotes nessa fase sustenta a continuidade da espécie.

Metodologia inovadora: câmeras e colares com sensores

O estudo monitorou 13 fêmeas adultas equipadas com colares monitoradas por satélite que transmitiam dados de temperatura, atividade e localização. Além disso, câmeras foram instaladas próximo às tocas para capturar imagens detalhadas do comportamento das fêmeas e filhotes. Os dados revelaram que as fêmeas emergiram das tocas entre 1º de março e 21 de março, com uma média de 9 de março. Após a primeira saída das tocas, as fêmeas permaneceram nas proximidades da toca por uma média de 12 dias, um período ligeiramente mais longo do que o registrado em outras regiões do Ártico.

Desafios no monitoramento e previsão de comportamentos

Apesar dos avanços tecnológicos, prever comportamentos específicos, como as saídas temporárias das tocas, ainda é um desafio. Os dados dos colares, coletados a cada duas horas, não foram suficientes para capturar movimentos curtos das fêmeas e filhotes, que muitas vezes duravam menos de 15 minutos. No entanto, os modelos desenvolvidos no estudo mostraram alta precisão na previsão da primeira saída e da partida final da toca, com taxas de acerto de 97% e 93%, respectivamente.

Fatores que influenciam o comportamento depois da primeira saída

O estudo também identificou que as condições ambientais locais, como a temperatura externa, influenciam o comportamento das fêmeas e filhotes. Em dias mais quentes, a probabilidade de observá-los fora da toca aumentou significativamente. Além disso, o tempo desde a primeira saída também teve um impacto positivo na duração das saídas, sugerindo que o período é crucial para a aclimatação dos filhotes ao ambiente externo.

O estudo não atribui diretamente o abandono precoce das tocas ao aquecimento global, mas aponta que as mães ursos polares estão enfrentando dificuldades crescentes na reprodução devido a mudanças impulsionadas pelo clima. Isso indica uma possível influência das alterações climáticas no comportamento reprodutivo da espécie, embora a pesquisa não faça essa relação de forma conclusiva. Para isso, os pesquisadores indicam que é necessário um monitoramento adicional para determinar se isso é uma tendência contínua.

Impacto do aquecimento no Ártico

O Ártico está aquecendo de duas a quatro vezes mais rápido do que a média global, resultando na perda acelerada de gelo marinho e neve, habitats essenciais para os ursos polares. Essa transformação tem levado à redução da condição corporal, índices reprodutivos e recrutamento de filhotes, causando declínios populacionais em várias subpopulações de ursos polares. No entanto, os efeitos das mudanças climáticas nas primeiras fases da reprodução, como o período de maternidade nas tocas de neve, ainda são pouco compreendidos.

Implicações para a conservação

O período de maternidade é um momento crítico para os ursos polares, tanto para o desenvolvimento dos filhotes quanto para sua sobrevivência futura. No entanto, o aquecimento global e a perda de gelo marinho estão tornando esse período cada vez mais desafiador. Além disso, o aumento das atividades humanas no Ártico, como exploração de petróleo e gás, representa uma ameaça adicional para as fêmeas e filhotes durante essa fase sensível.

O estudo reforça a importância do monitoramento contínuo e da proteção dos habitats de maternidade dos ursos polares. A precisão dos modelos desenvolvidos pode ajudar a prever períodos críticos e partida das tocas, permitindo a implementação de medidas de conservação mais eficazes. Com o Ártico continuando a aquecer em ritmo acelerado, entender e mitigar os impactos das mudanças climáticas sobre os ursos polares será essencial para garantir a sobrevivência dessa espécie icônica.

Artigo

Archer L. C.B. KirschhofferJ. AarsD. K. JamesK. M. MillerN. W. PilfoldJ. Sulich, and M. A. Owen2025Monitoring phenology and behavior of polar bears at den emergence using cameras and satellite telemetryJournal of Wildlife Management e22725. https://doi.org/10.1002/jwmg.22725

Comentários