Dinossauros não estavam em declínio antes da extinção? Estudo revela que asteroide foi o verdadeiro culpado


A história tradicional sobre o fim dos dinossauros sempre foi clara: há 66 milhões de anos, um asteroide gigante atingiu a Terra e desencadeou uma catástrofe global que exterminou, até então, os “répteis” dominantes do planeta. No entanto, nas últimas décadas, uma pergunta persistente surgiu entre os cientistas: e se os dinossauros já estivessem em declínio muito antes desse impacto? Algumas pesquisas sugeriam que mudanças climáticas, erupções vulcânicas ou até mesmo competição entre espécies poderiam ter enfraquecido esses animais, tornando-os mais vulneráveis quando o asteroide chegou. Mas um novo estudo, publicado na renomada revista Current Biology, traz evidências convincentes de que os dinossauros estavam, na verdade, prosperando até o momento final—e que a aparente queda em sua diversidade pode ser explicada por algo muito mais simples: a geologia.

A pesquisa, liderada por uma equipe internacional de paleontólogos e estatísticos, analisou mais de 1.600 registros fósseis de quatro grandes grupos de dinossauros da América do Norte os poderosos Tiranossaurídeos (como o famoso Tyrannosaurus rex), os encouraçados Anquilossauros, os abundantes Hadrossauros (conhecidos como "dinossauros bico de pato") e os icônicos Ceratopsídeos (como o Triceratops). O objetivo era entender se a diminuição no número de espécies encontradas em rochas mais recentes realmente indicava um declínio populacional ou se era apenas um reflexo de mudanças nas condições que preservaram ou não mseus fósseis.

Para responder a essa pergunta, os cientistas usaram uma técnica estatística avançada chamada modelagem de ocupação, originalmente desenvolvida para estudar espécies ameaçadas nos dias de hoje. Esse método permite estimar não apenas onde um animal viveu, mas também a probabilidade de que seus fósseis tenham sido preservados e descobertos. Os resultados foram surpreendentes: enquanto análises tradicionais sugeriam que muitos dinossauros estavam desaparecendo gradualmente antes do impacto do asteroide, a nova abordagem revelou que, na verdade, sua distribuição geográfica permaneceu estável ou até aumentou no final do Cretáceo.

A chave para entender essa discrepância está nas mudanças geológicas que afetaram a América do Norte naquela época. Durante milhões de anos, um vasto mar interior dividia o continente em duas massas de terra, a Laramidia, a oeste, e Apaláchia, a leste. No período conhecido como Campaniano (entre 83 e 72 milhões de anos atrás), as margens desse mar eram ricas em sedimentos que enterravam e preservavam dinossauros com facilidade, especialmente em regiões como o que hoje é Alberta, no Canadá, e Montana, nos EUA. No entanto, conforme o mar recuou no Maastrichtiano (72–66 milhões de anos atrás), a formação de rochas favoráveis à fossilização diminuiu drasticamente.

Imagine que você está tentando montar um quebra-cabeça, mas metade das peças está faltando porque algumas áreas simplesmente não preservaram fósseis. Se você não leva isso em conta, pode concluir erroneamente que os dinossauros estavam sumindo, quando na verdade o problema era que suas mortes não estavam sendo registradas nas rochas.

Ocupação, bem como estimativas de probabilidade de ocupação e detecção ao longo do último Cretáceo para clados de dinossauros. Linha superior: estimativa de ocupação com linha de tendência associada. Em baixo: estimativas de ocupação e probabilidades de detecção, incluindo a linha de tendência para a probabilidade de ocupação. As áreas sombreadas a cinzento nas linhas superior e inferior representam o intervalo de confiança de 95% para as linhas de tendência. As áreas sombreadas a cores na linha inferior indicam BCIs (95%) para a probabilidade de ocupação e detecção.


Além disso, o estudo revelou diferenças fascinantes entre os grupos de dinossauros. Os Hadrossauros, por exemplo, foram os mais facilmente detectados o que sugere que eram extremamente abundantes e amplamente distribuídos. Já os Ceratopsídeos, como o Triceratops, mostraram um aumento na probabilidade de detecção justamente no final do Cretáceo, coincidindo com a explosão de fósseis dessa família em formações rochosas como a Formação Hell Creek. Por outro lado, Anquilossauros e Tiranossaurídeos foram os mais difíceis de rastrear, possivelmente porque eram menos comuns ou viviam em ambientes onde a fossilização era mais rara.

Essas descobertas têm implicações profundas para o debate sobre a extinção dos dinossauros. Se eles não estavam em declínio antes do asteroide, isso significa que o impacto foi ainda mais catastrófico do que se imaginava, um evento súbito e inescapável que exterminou animais que ainda dominavam seus ecossistemas. O estudo demostra que não havia sinais de que os dinossauros estivessem condenados. Se esses resultados forem levados em consideração, se o asteroide não tivesse atingido a Terra, é bem possível que eles continuassem a prosperar por milhões de anos.

Mas a importância dessa pesquisa vai além da paleontologia. Ao demonstrar como vieses na preservação fóssil podem distorcer nossa visão da história evolutiva, o estudo oferece lições valiosas para a biologia da conservação moderna. Afinal, se os cientistas conseguirem distinguir melhor entre declínios reais e lacunas nos dados, poderão tomar decisões mais informadas sobre quais espécies estão realmente em risco hoje. No final das contas, o estudo não apenas reforça o asteroide como o grande vilão da história dos dinossauros, mas também mostra como a ciência está constantemente refinando suas ferramentas para enxergar o passado com mais clareza. E, no processo, revela que esses gigantes pré-históricos podem ter sido vítimas de uma dupla tragédia: primeiro, o acaso geológico que tornou seus fósseis mais raros; depois, o golpe final do cosmos que os apagou para sempre.

Artigo
Dean, C. D., Chiarenza, A. A., Doser, J. W., Farnsworth, A., Jones, L. A., Lyster, S. J., ... & Mannion, P. D. (2025). The structure of the end-Cretaceous dinosaur fossil record in North America. Current Biology.

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