Veneno da Cascavel no Combate ao Câncer de Mama: Avanço Científico com Potencial Terapêutico

 

Em um estudo pioneiro, cientistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) identificaram que a crotoxina, proteína extraída do veneno da cascavel (Crotalus durissus terrificus), mostrou resultados promissores no combate ao câncer de mama triplo-negativo – subtipo responsável por 15% dos casos e com altas taxas de mortalidade.

O Desafio do Triplo-Negativo

Este tipo de tumor, que afeta principalmente mulheres jovens (abaixo de 50 anos), é caracterizado pela ausência de três marcadores: receptores de estrogênio (ER), progesterona (PR) e proteína HER2. Essa condição limita as opções terapêuticas, tornando a quimioterapia convencional (com antraciclinas como a doxorrubicina e taxanos) o principal tratamento. No entanto, além de causar efeitos colaterais graves (como cardiotoxicidade e supressão da medula óssea), muitos pacientes desenvolvem resistência aos medicamentos.

Como a Crotoxina Age?

A pesquisa, publicada na revista Toxicon, revelou que a crotoxina:
✔️ Eliminou células tumorais MDA-MB-231 (linhagem triplo-negativa) em testes in vitro.
✔️ Inibiu a proliferação celular em 24 horas, na concentração de 50 µg/mL.
✔️ Induziu morte por necrose (não por apoptose), danificando o DNA das células cancerosas e evitando mecanismos de resistência 2.

"O efeito pró-necrótico ocorreu por meio da evasão da apoptose, inibição da autofagia e dano ao DNA", explicou Camila Marques de Andrade, autora principal do estudo. Diferentemente da quimioterapia tradicional, que ativa a morte programada (apoptose), a crotoxina causou ruptura direta das membranas celulares, um mecanismo menos suscetível à resistência.

Vantagens e Seletividade

Um achado crucial foi a seletividade da crotoxina: enquanto reduziu a viabilidade das células tumorais, preservou as células saudáveis (linhagem MCF-10A) na mesma concentração. Além disso, não houve sinergia com a doxorrubicina, sugerindo que a toxina age por vias independentes – o que a torna uma candidata para casos de resistência aos quimioterápicos.

Próximos Passos

Apesar dos resultados animadores, a pesquisadora ressalta que o estudo foi realizado em culturas celulares. "São necessários testes em animais e humanos para ajustar dosagens e confirmar a segurança", destacou. A crotoxina foi isolada por cromatografia a partir de veneno doado pela Unesp de Botucatu, e a colaboração com a Universidade do Porto (Portugal) permitiu análises avançadas das vias biológicas envolvidas.

Implicações Futuras

Se comprovada em fases posteriores, a crotoxina poderá:

  • Oferecer uma alternativa para pacientes com tumores resistentes.
  • Reduzir efeitos colaterais em comparação com a quimioterapia convencional.
  • Abrir caminho para novos fármacos baseados em toxinas animais.

Acesso ao estudo completo: Artigo aqui

Refêrecnia

Marzocchi, M. C. M., Natércia, T., Cristina, A., Felipe, C., Cristina, C. N., & Regina, T. M. (2025). Antitumor and antiproliferative potential of crotoxin in triple negative breast tumors. Toxicon258, 108322.

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