A última primavera dos Dinossauros (na américa do norte)

Os dinossauros foram extintos na primeira. Pelo menos na américa do norte era a estação do ano que se fazia presente na época que o meteoro atingiu o planeta terra. Uma equipe internacional liderada por pesquisadores da Universidade de Manchester publicou na Scientific Reports, um estudo revolucionário que esclarece o momento exato do impacto do asteroide que exterminou os dinossauros há 66 milhões de anos. Intitulado "Seasonal calibration of the end-Cretaceous Chicxulub Impact Event", a pesquisa traz novas evidências sobre a importância do período do ano em que ocorreu o cataclismo que extinguiu não apenas os dinossauros, mas 75% da vida na Terra. A primavera, estação tradicionalmente associada ao renascimento, foi o palco do fim de uma dinastia de 160 milhões de anos e alterou para sempre o curso da evolução.

Os cientistas analisaram o sítio paleontológico de Tanis, em Dakota do Norte (EUA), um dos locais mais ricos em detalhes sobre o limite Cretáceo-Paleogeno (KPg), para desvendar os mecanismos por trás do evento de extinção. O estudo representa um marco na compreensão do evento KPg, oferecendo não apenas insights sobre o passado, mas também lições valiosas para enfrentar futuras crises ecológicas e ambientais. Esse trabalho mostra, que embora a extinção tenha marcado o fim de uma era, o impacto e seu momento específico podem ter sido cruciais para o surgimento da humanidade, principalmente por ter aberto o caminho para a evolução dos mamíferos, que naquele momento não passavam de pequenos animais que viviam escondidos.

Estudos anteriores já haviam confirmado que o asteroide Chicxulub atingiu a Península de Yucatán há 66 milhões de anos, desencadeando a mais famosa extinção em massa da história do planeta. No entanto, os detalhes sobre os eventos imediatamente posteriores ao impacto permaneciam obscuros. Em 2019, outro trabalho da mesma equipe demonstrou que Tanis abriga o único registro conhecido de uma morte em massa de vertebrados diretamente associada ao impacto, preservada em sedimentos depositados nas primeiras horas após a colisão. O local contém uma mistura caótica de plantas, animais, árvores e detritos do impacto, oferecendo uma oportunidade única para reconstruir o ambiente da época.

O crânio de um peixe de um ano de idade em vista lateral é mostrado como (A) um gráfico tricolor (vermelho = fósforo; azul = silício; verde = alumínio) e (B) um mapa térmico para fósforo, mostrando alta definição de elementos cranianos articulados bem ossificados. O crânio de um poliodontídeo com menos de um ano exibe uma anatomia óssea subdesenvolvida característica de um estágio ontogenético anterior (C), mas ainda possui elementos rostrais bem reconhecíveis (D). (Gráfico tricolor em D: verde = fósforo; azul = silício; canal vermelho silenciado). (E), Uma visão ampliada do crânio em (A, B) vista sob luz normal mostra múltiplas esferas de impacto (setas) perto das brânquias (GR = brânquias, DEN = dentário).

A estação do ano desempenha um papel crucial em processos biológicos como reprodução, alimentação e interações ecológicas. Portanto, o período em que o asteroide atingiu a Terra foi determinante para a gravidade de seus efeitos. Até agora, essa informação era uma peça faltante no quebra-cabeça da extinção dos dinossauros. Desde 2014, a equipe empregou técnicas tradicionais e inovadoras para determinar a estação do impacto. Ao analisar linhas de crescimento preservadas em fósseis de peixes mortos durante o evento, os pesquisadores identificaram padrões que indicam que os animais morreram durante a primavera e o verão no hemisfério norte. 

A confirmação veio por meio de análises isotópicas e do estudo de insetos fossilizados, cujos comportamentos sazonais — como a mineração de folhas e a atividade de efêmeras — corroboraram a descoberta. Múltiplas linhas de evidência convergiram para a mesma conclusão: o impacto ocorreu entre a primavera e o verão. A pesquisa não apenas resolve uma questão antiga sobre a extinção em massa, mas também reforça a importância do registro fóssil para entender como a vida responde a catástrofes globais. O passado oferece dados essenciais para planejar o futuro diante das crises ambientais que a humanidade enfrenta hoje. 


Artigo:
DePalma, R.A., Oleinik, A.A., Gurche, L.P. et al. Seasonal calibration of the end-cretaceous Chicxulub impact event. Sci Rep 11, 23704 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-03232-9

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