Berçário Polar da Pré-História: Como Aves da Era dos Dinossauros Criavam Seus Filhotes no Ártico

 Há 73 milhões de anos, enquanto os últimos grandes dinossauros dominavam os continentes, um grupo de aves pioneiras enfrentava um desafio ainda maior: criar seus filhotes nas gélidas terras do Ártico. Essa incrível história, revelada por fósseis descobertos no Alasca, mostra que o Ártico foi o primeiro grande berçário de aves do planeta – um ninhal polar que antecipou em milhões de anos o que os cientistas imaginavam ser possível.

Um Verão no Ártico do Cretáceo

A cena seria impressionante: sob o sol da meia-noite do verão polar, gaivotas primitivas, aves aquáticas com dentes e ancestrais de patos modernos se reuniam às margens de rios e lagos para chocar seus ovos. Enquanto isso, pequenos dinossauros como o Troodonte – um caçador ágil e inteligente – rondavam a área em busca de ovos ou filhotes desprotegidos.

Essa imagem, que parece sair de um documentário de fantasia, foi reconstruída graças a dezenas de fósseis encontrados na Formação Prince Creek, no norte do Alasca. Ossos de filhotes recém-nascidos, fragmentos de cascas de ovos e até embriões fossilizados contam a história de um ecossistema único, onde aves aprenderam a explorar os curtos verões polares para se reproduzir.

Uma ilustração de aves do período Cretáceo com outros dinossauros do mesmo período ao fundo.
Crédito: Gabriel Ugueto

As Aves do Ártico Pré-Histórico

Os pesquisadores identificaram três tipos principais de aves nesse antigo ninhal:

  1. Mergulhões com Dentes – Parentes do Hesperornis, eram aves aquáticas que não voavam, mas mergulhavam como pingüins para caçar peixes. Seus bicos ainda tinham pequenos dentes, uma herança de seus ancestrais dinossauros.
  2. Gaivotas e Patos Arcaicos – Algumas já apresentavam bicos sem dentes, parecidos com os das aves modernas, mostrando que a transição evolutiva estava em andamento.
  3. Possíveis Ancestrais das Aves Modernas – Alguns fragmentos sugerem que espécies do grupo Neornithes (que inclui todas as aves atuais) já estavam presentes, o que as tornaria os fósseis mais antigos desse grupo.

Sobrevivendo no Fim do Mundo

O mais surpreendente é que essas aves não apenas visitavam o Ártico – elas se reproduziam lá, enfrentando invernos escuros e temperaturas extremas. Como conseguiam?

  • Crescimento Super-Rápido – Os filhotes nasciam e se desenvolviam em questão de semanas, aproveitando os meses de verão para ficarem fortes o suficiente antes do inverno.
  • Estratégias de Sobrevivência – Algumas podem ter migrado, mas outras talvez resistissem ao frio, como fazem os corvos-marinhos-de-crista atuais.
  • Alimento Abundante – Rios ricos em peixes e insetos garantiam comida para os pais e seus filhotes.

Por Que Essa Descoberta é Tão Importante?

  1. Reescreve a História das Aves – Antes, pensava-se que a nidificação polar só havia surgido 47 milhões de anos atrás. Agora, sabemos que as aves já dominavam essa estratégia 26 milhões de anos antes.
  2. Explica a Sobrevivência das Aves – Enquanto os dinossauros foram extintos, as aves sobreviveram. Sua capacidade de se adaptar a ambientes extremos, como o Ártico, pode ter sido crucial.
  3. Mostra um Ártico Cheio de Vida – Longe de ser um deserto gelado, o Ártico do Cretáceo era um ecossistema pulsante, onde dinossauros, aves e outros animais disputavam espaço e recursos.

O Que Ainda Queremos Saber?

Os cientistas agora buscam responder:

  • Essas aves migravam ou viviam o ano todo no Ártico?
  • Quantas espécies diferentes formavam esse ninhal?
  • Como elas interagiam com os dinossauros da região?

Enquanto novas escavações acontecem no Alasca, uma coisa é certa: o Ártico foi muito mais que uma terra congelada no passado – foi o berço de uma revolução aviária que moldou o mundo que conhecemos hoje.

Foto dos fósseis logo abaixo.

Artigo: Lauren N. Wilson et al., Arctic bird nesting traces back to the Cretaceous.Science388,974-978(2025).DOI:10.1126/science.adt5189







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