Gripe Aviária em Evolução: Conter o Vírus H5N1 em Aves de Produção Torna-se Desafio Global

O vírus H5N1, causador da gripe aviária, não dá sinais de recuo. Pelo contrário, continua a gerar novas variantes que superam suas predecessoras, ampliando os riscos de transmissão para humanos, aves domésticas e outras espécies.

As cepas atuais estão se tornando mais eficientes, com maior capacidade de replicação e disseminação. Uma equipe de cientistas analisaram o DNA de 2.955 amostras do vírus, e os resultados, publicados em 9 de julho na Science Advances, revelam como o H5N1 trocar material genético com outras linhagens de influenza aviária, expandindo-se pelas Américas.

O vírus deve continuar sofrendo mutações e recombinando-se com outras cepas, potencializando sua capacidade de infectar aves e, possivelmente, outras espécies. Embora a disseminação possa eventualmente estabilizar-se, o que ainda não há indícios disso. Os vírus acompanham as rotas migratórias das aves, e não parece haver um fim à vista.

Impacto Sem Precedentes

Evolução e diversidade do virus




As variantes atuais do H5N1 já superam todas as anteriores em termos de capacidade de infectar múltiplas espécies. Além de aves silvestres e domésticas, o vírus já foi detectado em mamíferos como bovinos leiteiros, felinos, suínos e humanos. Nos EUA, 70 casos humanos foram confirmados, com uma morte registrada, embora estudos sugiram que o número real de infecções possa ser maior.

As cepas em circulação são altamente patogênicas para aves de produção, podendo matar galinhas e perus em 24 a 48 horas. Desde o início do surto em 2022, quase 175 milhões de aves nos EUA morreram ou foram sacrificadas em granjas comerciais e de pequeno porte.

Proteção dos criações: Um Desafio Complexo

Padrão de migração de aves na américa
Conter o avanço do H5N1 em avicultura e pecuária leiteira tem se mostrado um obstáculo quase intransponível. Entre as estratégias em discussão está a vacinação de aves, embora algumas vozes, como a do secretário de Saúde dos EUA, tenham sugerido permitir a circulação descontrolada do vírus para selecionar animais geneticamente resistentes. No entanto, pesquisadores alertam, em artigo publicado na Science em 3 de julho, que essa abordagem seria ineficaz e arriscada.

Aves comerciais têm baixa diversidade genética, e poucas sobrevivem à infecção. Um surto sem controle poderia dizimar plantéis, comprometendo a reposição de matrizes e frangos de corte. Além disso, sobreviventes não necessariamente teriam vantagem genética, mas talvez imunidade cruzada de infecções prévias por outros vírus influenza—o que, paradoxalmente, poderia facilitar a replicação silenciosa do H5N1.

Permitir a disseminação do vírus equivale a acelerar sua evolução. O maior temor é que o H5N1 adquira mutações que facilitem a infecção em humanos ou se recombinem com vírus da gripe sazonal ou suína, gerando uma cepa pandêmica.

Estratégias de Contenção: Além dos Aviários

A melhor defesa, é impedir o vírus salte de aves silvestres para criações domésticos. Isso exige medidas que vão além das granjas, como o manejo de habitats próximos a áreas de produção. O USDA anunciou a alocação de 20 epidemiologistas para auditorias de biossegurança em fazendas, mas pode ser uma iniciativa, iniciativa insuficiente, dada a escala da produção avícola e a falta de monitoramento de áreas circunvizinhas.

Com as aves migratórias no Ártico no verão boreal, os surtos estão em declínio, mas o período é crucial para preparar a resposta ao retorno desses animais no outono, possivelmente carregando novas variantes. Existe uma necessidade de investir e implantar uma vigilância local, ainda que medidas preventivas sejam difíceis de justificar economicamente. O vírus H5 nos mostrou que estamos sempre um passo atrás.

Artigos
A.V. Signore, et alSpatiotemporal reconstruction of the North American A(H5N1) outbreak reveals successive lineage replacements by descendant reassortantsScience Advances. Published online July 9, 2025. doi: 10.1126/sciadv.adu4909.
E.M. Sorrell et alThe consequences of letting avian influenza run rampant in US poultryScience. Vol. 389, July 3, 2025, p. 27.  doi: 10.1126/science.adx8639.
J. Leonard et alSeroprevalence of highly pathogenic avian influenza A(H5) virus infections among bovine veterinary practitioners — United States, September 2024Morbidity and Mortality Weekly Report. Vol. 74, February 13, 2025, p. 50. doi: 10.15585/mmwr.mm7404a2.
I. Shittu et alA One Health investigation into H5N1 avian influenza virus epizootics on two dairy farms. Clinical Infectious Diseases. Vol. 80, February 15, 2025, p. 331. doi: 10.1093/cid/ciae576.

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